No fate...

num suspiro o tempo consome a nossa carne, e os beijos, outrora gulosos, agora podem abrir escaras na pele cada vez mais fina.

minha calva encanecida ainda te vê menina. tua face enrugada ainda me vê miúdo.

onde em casa eram espelhos, há fotografias do nosso rosto.

casamento, passeios, molduras do passado. nós dois, sempre, lado a lado.

ainda somos jovens. tu caminhas pouco. e eu só quis ter o teu colo. onde deitar e conversar baixinho.

e alisar as tuas coxas, com cuidado. para não ficar cansado.

e assim ficamos juntos até nos esquecermos, primeiro de nós mesmos, depois de viver, e, enfim, um do outro.

e tornamo-nos lembrança para sempre. o miúdo e a menina, de rugas risonhas, encerrados no eterno do velho sofá.



...fate, it seems, is not without a sense of irony.